segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Arranque minhas verdades, me leve na conversa e eu me entrego. Deite-se ao meu lado, conte longas histórias, de que um dia houve um amor que ultrapassou o tempo, que ficou mais de 20 anos adormecido no castelo, até que um longo beijo o despertou. Tudo mentira, sonho, pesadelo, nada verdadeiro. E eu caí nessa, acreditando que o mundo seria capaz de mudar, de aceitar pessoas diferentes e insistentes, como eu fui um dia. Já não preciso mais de alguém que me defenda, nem de um porto seguro, ou de um amor para toda a vida. Eu já me basto. Faça o que quiser fazer, sem mim. Viaje aos mares do sul, sobrevoe oceanos imensos, mas ouça o conselho: não me trate como uma qualquer. Qualquer um pode não ter valor, ser apenas aquela pessoa do momento, que inspira apenas cinco minutos e nada mais. Eu não, eu sou uma mosca na sopa, um calo apertado pelo sapato, uma verdade incontestável. Me assuma se tiver coragem, do contrário, finja que nunca me viu nem sabe quem eu sou.
Eu não traço metas, eu traço retas, as menores distâncias entre os pontos; os pontos de vista, os pontos de encontro, os pontos finais. Estes nem sempre eu os coloco, nas frases, nas relações, no que começo.
Eu sou original, sem silicone, sem cirurgia, sem lentes de contato; com todas as rugas, cãs e gordura localizada, mal localizada, mas que preenchem meus vazios. De noite os medos me envolvem, medo por filhos, medo de não completar a prova, de perder amigos. Sou ego sempre na frente, nariz torto e mal dividido, pele boa, genética boa, uma bela figura. Autobiografia, autocrítica, auto punição; auto estima, essa não convive comigo. O sonho maior que tenho é ajudar, o próximo, o filho, as plantas, a mim mesma. Queria ser mais sorriso, mais otimismo, mais agradável. Mas sendo tudo isso já sou querida, inspiradora, e bem amada. Sempre grata e bem resolvida, mesmo cheia de dores e feridas, cicatrizadas e tratadas. Feliz quem sou eu, não sou você nem mais ninguém. "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".
Houve uma vez um verão...

De repente me sinto tão mais distante da criança que fui um dia: aquela menina magricela que ficava bronzeada por inteiro de tantos dias ao sol do verão. Tenho lembranças da menina chorona e triste, cuja grande alegria na vida era a chegada do verão, que trazia consigo as férias, ah, as férias, coisa mais esperada. As crianças da minha infância contavam os dias que faltavam para suas datas especiais, as expectativas existiam; os dias custavam a passar quando queríamos que, por exemplo, o mês de nosso aniversário chegasse, ou o mês das férias. As noites eram longas, pois tínhamos que dormir cedo e cedo acordávamos, sempre dispostos, sem reclamar. Não tive um local para chamar de meu, na infância, pois muitas foram as minhas moradas, mas sempre, as férias foram as melhores, na velha casa de praia, com minha avó querida e primos igualmente queridos. À praia só podíamos ir pela manhã, bem cedo, não existia o horário de verão, o sol era saudável, sem protetor, nossa pele escurecia, e nossos dias eram quentes, mas suportáveis, nada de ar condicionado, muito menos ventilador, janelas abertas, sugando a brisa do mar. Por isso, vivendo hoje neste novo século, convivendo com o aquecimento exagerado, com um sol não mais tão amigo, com muitos cremes e protetores, me entreguei à nostalgia e a uma reflexão sobre a vida cheia de energia que mereço viver.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Outono

Precisa muita serenidade para ver o tempo avançando, assim como alguém montado em uma bicicleta que se lança ladeira abaixo, nem freiando para ele se deter.
No outono as folhas amarelam e caem, o vento corta o rosto no final do dia e as noites já esfriam nosso descansar.
Uma mulher também outona, perde o viço, as cores mudam no cabelo, na pele, nas entranhas. Por vezes não atrai mais, não sangra mais, não deseja como antes.
Uma mulher que se conhece pode passar por este tempo numa eterna primavera, se mantiver seu corpo em movimento, seu cérebro em pensamento e seus beijos na ponta da boca.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Com a chuva na janela

Um gole após o outro eu vou sorvendo desta bebida gelada,
Que espalha por onde passa um frescor que me devassa.
Uma lágrima após a outra, eu vou curtindo este choro contido,
Que limpa por onde escorre, na minha pele onde passa.
Um passo após o outro eu vou correndo nesta avenida,
Que compete com meu compasso e me deixa embevecida.
Se é dia ou se é noite, eu não posso saber,
Estou toda concentrada
Em cuidar do meu viver.



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Zona de Conforto

É confortável viver sempre com os mesmos pensamentos,
Controlar os próprios sentimentos,
Esconder ressentimentos.
Viver acostumado com o comportamento,
Sem perdas, sem riscos e sem medo.
O que protege é uma falsa segurança,
Uma janela com cortinas, um horizonte que limita.
Você pode seguir neste marasmo, onde tudo é tão calmo
E totalmente previsível.
Você chega sempre em casa no horário do jantar,
Teu chinelo está ali, ao lado da porta, te esperando para andar.
Um dia você será testado, instigado a experimentar
Circunstâncias que te puxam com a força da maré.
Você vai ser convidado, a passar a rebentação
Para alcançar o melhor pico, e ganhar satisfação.
Mexa os braços, bata os pés, puxe e solte bem o ar,
Vá nadando na corrente e enfrente este mar.


 Foto: Zona de Conforto (Angela)

É confortável viver sempre com os mesmos pensamentos,
Controlar os próprios sentimentos,
Esconder ressentimentos.
Viver acostumado com o comportamento,
Sem perdas, sem riscos e sem medo.
O que protege é uma falsa segurança,
Uma janela com cortinas, um horizonte que limita.
Você pode seguir neste marasmo, onde tudo é tão calmo
E totalmente previsível.
Você chega sempre em casa no horário do jantar,
Teu chinelo está ali, ao lado da porta, te esperando para andar.
Um dia você será testado, instigado a experimentar 
Circunstâncias que te puxam com a força da maré.
Você vai ser convidado, a passar a rebentação
Para alcançar o melhor pico, e ganhar satisfação.
Mexa os braços, bata os pés, puxe e solte bem o ar, 
Vá nadando na corrente e enfrente este mar.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Leiam, mas não pensem que as palavras me revelam. Elas me lavam, levam a tristeza e trazem tranqüilidade. São mensagens que quero compor.

Eu construí uma dor
E destruí um amor.
Por favor, não pense em mim
Como uma flor que despetala-se
E esmorece, da qual se esquece.
Lembre-se que já fui a rosa
Mais linda do teu jardim.
Você estará sempre em mim,
Essencialmente em mim.

Querendo ser eterna me tornei efêmera,
A fêmea que a solidão tomou conta.
Por favor, não toque em mim.
Eu me desmancho em prantos
E desencantos.
Estou tomada de dor.


 Foto: Leiam, mas não pensem que as palavras me revelam. Elas me lavam, levam a tristeza e trazem tranqüilidade. São mensagens que quero compor.

Eu construí uma dor
E destruí um amor.
Por favor, não pense em mim
Como uma flor que despetala-se
E esmorece, da qual se esquece.
Lembre-se que já fui a rosa 
Mais linda do teu jardim.
Você estará sempre em mim, 
Essencialmente em mim.

Querendo ser eterna me tornei efêmera,
A fêmea que a solidão tomou conta.
Por favor, não toque em mim.
Eu me desmancho em prantos
E desencantos.
Estou tomada de dor.